sábado, 28 de abril de 2012

Um dos 99%


Primeiro que tudo gostava de dizer que por mais que pensem que tudo é decidido em grupo, as palavras que aqui vos escrevo são escritas apenas com um par de mãos.
Nas últimas manifestações, e por último no despejo do ES.COL.A, temos assistido a uma permanente escalada na violência daquilo que sei ser a revolução. Nem sequer vou procurar atribuir culpas, prefiro que cada um tire as suas próprias conclusões, que questionem, que nunca se dêem por satisfeitos com nenhuma resposta que não a vossa.
Estamos a entrar, em Portugal, no ciclo violento, e com isto quero dizer, que as pessoas se tornam difíceis de conter nos seus ímpetos, e que a revolta que nos fazem carregar dentro já nem tem por onde ser oprimida, que os jovens, esses com as hormonas, não medem consequências, porque também faz falta essa valentia, porque as pessoas estão fartas de esperar, ouvem-se murmurinhos cada vez mais violentos, como se isso fosse sequer oferecer uma resposta.
Por mais que se invoque o episódio dos trabalhadores indianos das salinas, por mais que se invoque o Gandhi, parece que já nada serve de resposta às mentes inquietas.
Por tudo isso e muito mais, apelo que pensem, que tudo isso é fazer exactamente aquilo que eles querem que façam, a violência faz parte do puzzle.
Enquanto não aprendermos a tolerar, a dar a outra face, e a nos colocarmos nos sapatos dos outros, seremos pouco, muito pouco.
Assim e porque me parece que é sem dúvida uma daquelas alturas que a recolha de informação faz sentido atentem ao texto que nos chegou “às mãos”, e reflictam, questionem e encontrem a vossa própria resposta.

“Estava a nascer o dia, adivinhava-se um dia de sol, com temperatura amena,
característica de um dia de Inverno, mas com sol.

A minha disposição era a mesma, ainda o dia não havia começado, e já aquele aperto no
peito se apoderava de mim, consumia-me o corpo e a alma, chorar já não me apetecia.

Sou um homem, cheio de angústia, sem horizonte, triste e com raiva, com vontade de gritar
e dizer a toda a gente que ou sou maluco ou estão a querer fazer de mim maluco.

Ano de XXXX, decidi que iria concorrer ao posto de subchefe, decidi que ia melhorar a minha
vida e dar resposta à minha ambição. Estudei, preparei-me, sempre com o pensamento que
estava a fazer o correcto.

Vida estável, casado, integrado num serviço que qualquer agente ambicionaria, perto de
casa, junto da família e amigos, agora me lembro que era feliz.

Como já deve ser perceptível, consegui entrar no Curso de Subchefes e finalizá-lo.

Senti-me realmente orgulhoso, queria dizer a toda a gente, que consegui atingir uma das
poucas metas que um dia tinha predefinido para a minha vida.

Hoje, esta dor mortal, este sentimento de tristeza, que carrego no meu interior e que o meu
semblante não me deixa esconder é o troféu que me estão a dar por ter conseguido.

Pensam vocês os que estão a ler, afinal o que é isto, que palavras são estas que eu estou a
ler?

Pois bem, vou-me apresentar, sou um das centenas de subchefes à espera de ir para casa,
casado, com filhos e infelizmente sou Subchefe da Policia de Segurança Pública, colocado em
XXXX desde XXXX de XXXX.

Infelizmente sou um Subchefe da PSP, porque de um homem e profissional feliz, resta um
homem e um profissional triste.

Um homem que não consegue dizer à sua mulher quando irá para casa, um homem privado
de dar todo o amor que tem ao seu filho, um homem que não consegue largar a dor da
indefinição, a dor do escuro, da incerteza, da raiva, da frustração, da melancolia, da revolta.

Estou a escrever tudo isto e direccioná-lo a vós, porque tenho que dar uma direcção a isto,
será assim tão difícil, perceber que centenas de homens, com responsabilidades e obrigações não
conseguirão ser felizes nem proporcionar felicidade a quem os rodeia, porque alguém nos pôs
nesta situação.

Será difícil perceber, que quem não vê uma luz, apenas vê escuridão, será difícil perceber
que quem correr sem ter uma meta, vai acabar por desistir por cansaço sem nunca chegar a lugar
algum.

Por isto e muito mais, que neste momento não me apetece escrever, venho pedir o vosso
auxilio, no sentido de movimentar as pessoas, no sentido de dar esperança e no sentido de dar
sentido a tudo isto porque estou a passar."

As localizações e datas foram omitidas.

1 comentário:

  1. este texto prova que ainda existem agentes da autoridade com ética... é pena serem poucos, mas este texto que sirva e inspiração para muitos =)

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